Texto performado na Rua das Gaivotas 6 (17 janeiro de 2024)
Primeiro Nada, Depois Nada ou ZzZ

Para ler-se pausadamente. Num tom de voz grave e doce. Cada espaço, cada letra, cada vírgula: um convite à calma e ao fôlego.

~

Boa noite.
Boa noite.
Boa noite a todos, a todas e a todes.
Sejam bem-vindes.
Que bom que vocês chegaram até aqui.

Antes de mais, agora que aqui estamos, quero que vocês encontrem neste espaço um lugar. E que fiquem bem confortáveis.

Vocês estão confortáveis?
Se não estiverem, parem.
Tomem um tempo.

Não há pressa aqui.

Antes de mais, agora que chegamos, quero que vocês encontrem aqui um lugar. Por isso, tomem um tempo. Aconcheguem-se como precisarem. Façam como um gatinho que rodeia os pés de uma cama e pisa com as suas patas, devagarinho e com cuidado, antes de se deitar.

Não há pressa aqui.
Experimentem primeiro o espaço.
Acomodem-se e encostem-se ao que tiverem à vossa volta.

Comecem, talvez, pelo chão.

Estão a tocar-lhe? Se ele estiver frio, vejam como as vossas temperaturas se equilibram e se trocam. Vejam como ele vos toca de volta. E como também respira.

E as paredes. Muitas vezes, neste espaço, elas servem para suportar quadros ou outras peças de exposições. Mas hoje elas estão vazias. Hoje elas não servem, só aí estão. Encostem-se. Podem-se encostar. Este é o nosso espaço de hoje. Encontrem um lugar.

Há também pessoas perto de vocês - talvez tenham uma perna estendida, um ombro, um braço ou um rabo. Ou então mochilas que trouxeram convosco. Com cuidado, ponham alguma dessas coisas debaixo da nuca ou então envolvam-na com os braços. Sabem, às vezes até as almofadas precisam de um encosto.

E há o som. Este som.
Deitem-se sobre ele como se fosse uma cama. Uma cama bem fofa. Deitem-se sobre ele, como se estivessem boiando, de barriga para cima, na superfície do mar.

Isso, encontrem primeiro um lugar.

Sabem, o espaço para ser um lugar habitável, precisa de ser encontrado.
Encontrar é esse gesto que faz da distância um espaço mais estreito.

Por isso, tomem um tempo.

Não há pressa aqui.

Um gesto assim não se faz de repente.

~ ~

Hoje é dia 17 de janeiro de 2024.
Cada um de nós começou o dia noutro lugar. Acordou. E, desde aí, coisas aconteceram. Não sei bem que coisas foram essas. Sei que acordamos. Que coisas aconteceram. E que agora nos encontramos todes aqui. Aqui, no Centro de Documentação da Rua das Gaivotas 6, em Lisboa. E agora, no final deste dia: o dia do aniversário da arte. É uma ideia engraçada. Antes de estar aqui eu não sabia que a arte fazia aniversário!

~ ~ ~

Hoje, eu tinha pensado uma coisa para você.
E vou começar contando um conto.
Um micro-conto de uma escritora brasileira, a Lygia Fagundes Telles.

É um diálogo. Nele, alguém diz:

“— Fui-me confessar ao mar.
— O que ele disse?
— Nada”

Hoje é isto que te proponho.

Vir até aqui.
Chegar aqui.
Estar aqui.
Para não fazer nada.

É como um mergulho que fazemos juntos.

Você acha que consegue ficar algum tempo junto debaixo de água?

Nadando. Fazendo nada.

É isso mesmo:

E, se hoje, você não fizesse nada?

É isso mesmo:

Primeiro nada,
Depois nada.

~ ~ ~ ~

Vocês sabiam que na Coreia do Sul, uma vez por ano, perto de uma centena de pessoas se junta num parque para não fazer nada?

É o space-out festival. A artista que o criou, a WoopsYang, pensou um dia: “Nós nos sentiríamos muito melhor sobre não fazer nada se fizessemos nada juntos, como um grupo”. Então ela organizou um encontro anual em que as pessoas se juntam e competem para ver quem consegue, durante 90 minutos, ficar mais quieto, mais calado, com a menor distração, com o menor esforço senão o de não fazer absolutamente nada.

Imaginem.

Um enorme pedaço de relva num parque de uma grande cidade. Dezenas de pequenos tapetes de yoga estendidos. Uma pessoa sentada em cada um desses tapetes. Quase cem pessoas imóveis, caladas, olhando alguma coisa muito muito longe ou então muito muito perto. Todo o mundo fazendo nada.

Imaginem.

Em julho do ano passado eu fiz algo parecido.
Chamei uma série de pessoas para fazer comigo um workshop, um laboratório de performance e improvisação.

Chamei-lhe “Primeiro Nada, Depois Nada”. E o convite era como na Coreia. Era como aqui, agora. Criar um espaço em que estamos juntos sem a expectativa do fazer. Sem a expectativa do produzir. Concentrados apenas em investigar como estar juntos.

Porque viver junto é descobrir como.

Mas se lá na Coreia aquelas pessoas competiam, nesse workshop e aqui, agora, a proposta é diferente. Lá é competir, aqui é celebrar.

Sim, quem disse que uma festa não pode acontecer em silêncio?

Numa festa o tempo dura.
Não se faz nada de útil ou de necessário.
Acontece apenas o excesso, mesmo que seja um excesso de tranquilidade.
Numa festa, o mundo e as coisas simplesmente acontecem.
E é isso que se celebra.

Imaginem.

Esta conversa lembra-me agora o Tehching Hsieh. Vocês conhecem ele? O Tehching Hsieh é um artista taiwanês, que trabalhou em nova iorque nos anos 70 e 80. Ele fazia performances muito radicais. Uma das suas performances se chama “Peça da Cela” ou “Cage Piece”.

Nela, ele simplesmente construiu uma cela no seu estúdio feita de vários cilindros de pinho. Dentro da cela havia apenas um colchão, alguns produtos de higiene e um lavatório. Então, o Tehching Hsieh ficou um ano dentro daquela cela. Um ano. E adivinhem. É isso mesmo. Não fazendo nada. Sem ler. Sem falar. Sem produzir ou criar o que quer que fosse.

Imaginem.

Um ano.
Um ano só contemplando.
Um ano só estando, só deixando o tempo passar, as coisas acontecendo, quase como que esperando alguma coisa, mas não tendo nada por que esperar.

Naquela cela, naquele estúdio, o tempo e a vida viraram matéria de trabalho.

Imaginem.

Queria só contar-vos agora mais uma coisa.
Uma vez, o Francis Alÿs, um artista belga da performance, empurrou um grande cubo de gelo pelas ruas da cidade do México.

Ele começou essa ação, essa tarefa, com um grande bloco de gelo. Deveria pesar uns bons quilos. E então ele simplesmente foi empurrando o gelo enquanto caminhava. É verdade. Ele não fez mais nada, para além de empurrar um grande bloco de gelo pela rua. Ao longo do tempo, o gelo foi derretendo, derretendo, derretendo. Foi ficando cada vez mais pequeno. Até que, ao fim de nove horas, virou um pequenino cubo como os que se põem numa bebida. E, finalmente, uma pequenina pocinha de água no cimento.

Esta performance do Francis Alÿs chama-se:
“Sometimes doing something leads to nothing”.
Às vezes fazer alguma coisa não leva a nada.

Mas às vezes eu penso no contrário:
Sometimes doing nothing leads to something.
Às vezes não fazer nada leva a alguma coisa.

É isso, gente.

Este é o meu convite para hoje. Sentar aqui comigo como se estivéssemos num parque na Coreia ou no estúdio do Tehching Hsieh. Ou como se fóssemos a pedra de gelo do Francis Alÿs e o tempo passasse sobre nós como um fenómeno de erosão.

Deixem que o tempo passe.
Parem.
E não façam nada.

Já está tudo a acontecer.

~ ~ ~ ~ ~

Isto que eu estou fazendo aqui é a continuidade de uma pesquisa.
É a continuidade de uma prática.

Eu vou mostrar para vocês.
Agora, vamos visitar uma ilha.
Nesta ilha o tempo também dura.
A ilha fica no meio do nada. No meio da água, do oceano Índico.

Em tempos eu tive uma amiga.
E ela tinha o mesmo nome dessa ilha que vamos visitar agora.

Mariana.

Havia uns dias em que a Mariana, ou “M” como eu também lhe chamo, se sentia mais ansiosa. Por algum motivo, ou por motivo nenhum, ela se sentia mais inquieta, mais angustiada. E “M”, a Mariana, tinha um amigo, Marum, podemos chamar-lhe “M” também, que nesses dias em que “M” estava assim, lhe fazia um som ao computador ou na sua mesa de mistura, para ajudá-la a ficar mais calma. Era também assim que eles passavam o tempo juntos.

M e M ficavam então os dois no quarto.
E aquele quarto convertia-se numa ilha.
Uma ilha num apartamento em Berlim ou no meio do Oceano Índico.

A ilha Mariana.

Nessa ilha, nesse quarto, M fazia para M um som que enchia o espaço. E que fazia uma cama onde M se deitava. Onde M e M se deitavam. Um som que passava no corpo um cafuné sonoro muito leve, muito longo.

Nessa ilha, nesse quarto, M fazia para M um som que dilatava o tempo, que fazia bem longo esse breve momento depois do cheio, quando o peito encheu e não deitou o ar ainda para fora, e depois do vazio, quando o peito se esvaziou e não trouxe ainda o ar para dentro.

Experimentem.
Não é suster a respiração.
É sustentar esse espaço do vazio e do cheio com o peito.
É manter o corpo no fundo da queda, no topo do salto.

Naqueles dias de maior cansaço e de maior angústia, M fazia para M um som, que era um cuidado, um reparo. Naquele lugar, naquele momento, não havia nada de errado. No tempo havia espaço onde cabiam a calma e o sono e o sonho. E o espaço tinha tempo e demorava. Podia chegar-se quase de uma vez, num gesto muito lento, a todas as coisas, a todos os lados.

Sim. Era como um cafuné muito muito longo.
Talvez não seja por acaso que festa, em português, é também o nome para carícia.

Hoje, aqui e agora, estamos nessa ilha e estamos dando continuidade a essa prática: de M cuidando M cuidando Rochinha cuidando Afonso cuidando eu cuidando Miguel cuidando vocês e depois de volta.

Estamos na ilha Mariana.
Onde o privado se torna menos privado.
Onde a política é intimidade.
Onde um quarto se torna comunidade.

~ ~ ~ ~ ~ ~

Estará por aí alguém dormindo?

Eu gosto de ver as pessoas dormindo.
Gosto de ver os animais dormindo.
E gosto de ver até as pedras dormindo.

Claro, as pedras dormem. Elas dormem muito, muito, muito.
Dizem que com tempo e paciência podemos ouvi-las bocejar.
Deve ser lindo o som de uma pedra bocejando.

Sim, gosto de ver as pedras, as pessoas, os animais dormindo.

Uma vez li que tem alguns animais que não dormem.
Mas será mesmo assim?

Os lagartos dormem, se calhar de olhos abertos, basta ver como eles ficam imóveis horas a fio ao sol. As morsas deixam as cabeças de fora da água enquanto boiam e dormem. Ou então dormem na areia, na praia, umas em cima das outras, amontoadas. Os morcegos dormem pendurados de pernas para o ar. Álguns pássaros e os peixes também dormem. Dizem que dormem apenas com uma parte do cérebro, não deixando nunca de voar, não deixando nunca de nadar. As alforrecas dormem enquanto flutuam no mar. E as plantas. Até as plantas dormem. Há muitas delas que à noite se recolhem e dobram para dentro as folhas. Ou então fazem o contrário. Brotam do sono flores que de dia voltam a fechar. E as pedras. Até as pedras dormem. Ouçam como elas estão bocejando enquanto aqui estamos.

O mundo está sempre acontecendo.
Mas também dorme.

Todo o mundo dorme.
Dormir é parar.
É não fazer nada.
Esperar.

E a espera só começa quando não há mais nada a esperar.

~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

Waking Life.

Waking Life é o nome de um filme.
E é também o nome de um festival.

Nesse filme acompanhamos um rapaz que vagueia e não se sabe bem se está sonhando acordado ou acordado num sonho. A certa altura alguém no filme diz: “Parece que toda a gente está caminhando-dormindo enquanto estão acordados ou caminhado-acordado enquanto estão dormindo”.

É, às vezes é difícil distinguir.

Esse rapaz do filme, enquando sonha acordado ou acorda dormindo, encontra uma série de pessoas diferentes que lhe falam da vida, da existência, do mundo. A certa altura há duas pessoas que falam sobre cinema. Sobre Bazin e Truffaut. Sobre como o cinema, mais do que um meio de contar histórias é um meio para reproduzir a realidade como um momento sagrado. E sobre como os momentos sagrados, na verdade, são todos.

Todos e qualquer um.

A certa altura, esse duas personagens do filme decidem ter um momento sagrado.

Então páram.
Não fazem nada.
Só se olham um no outro.
E prestam atenção.
Escutam.
Abrem-se.

Em junho de 2023 eu fui a um festival chamado Waking Life.
Fui convidado para ir lá oferecer às pessoas uma série de performances imersivas.

Foi nesse ano também que estreei o projeto “M”, aqui mesmo, na Rua das Gaivotas 6.
Um projeto em que faço o luto de uma amiga.

Talvez pela proximidade desses dois momentos, decidi que essa minha ida ao festival seria uma continuidade desse projeto. Foi estranho: estar num festival de música eletrónica com milhares de pessoas dançando e sonhando tão alto, pensando que eu estava ali para fazer um luto.

Era esse o meu segredo.

Para as tais sessões imersivas eu propus então às pessoas, numa espécie de sessão guiada, que olhassem para tudo como se fosse a primeira e a última vez. Ao mesmo tempo, decidi ter comigo sempre um pequeno arranjo vegetal que fiz com plantas que encontrei pelo festival. Durante o dia vagueava pelo recinto, andava sem direção e colhia plantas, flores, pequenos paus e levava-os comigo. Parecia que estava acordado num sonho.

Mantive e carreguei este pequeno arranjo comigo durante os 6 dias do festival.
E ninguém sabia a razão de eu estar ali com aquele arranjo.
Ele era a materialização do meu segredo:
Eu estava ali por (e com) "M".

No último dia, decidi dormir com o arranjo.
E, depois desse sono, finalmente deitei o arranjo na água do lago.

Em segredo.

Acho que aquilo foi um ritual de despedida.
Mas ao mesmo tempo um novo começo.
Uma primeira e uma última vez.

Um apesar de tudo.

Apesar de tudo, recomeçar.
Apesar de tudo, continuar.
Apesar de tudo, dormir e sonhar muito alto. Muito longe.

Sonhar é um apesar de tudo.
É vaguear. Andar sem direção. Com vagar.
Quase como se não saíssemos do lugar.
Como se não chegássemos a lado nenhum, mas estando, afinal, em todo o lado.

Dormir, sonhar, vaguear.

É como andar num corpo de água.
Andar para nada.

Nadar.

~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

Há uma tribo na Amazónia para quem o sonho faz tanto parte da vida como o que acontece quando estão acordados.

São os Yanomami.

Para eles, durante a noite, enquanto dormem, a imagem interior de quem sonha deixa o corpo e entra em contacto com as imagens interiores de todas as outras coisas.

Das pessoas vivas, das que já morreram, dos bichos da floresta, das árvores, da água de uma cachoeira e até das pedras. Sim, das pedras que dormem e que bocejam.

O sonho, para os Yanomami, é como uma pequena morte.
O corpo, como uma pele, fica pesado, dormindo no fundo de uma rede.
Mas a imagem interior sobe, voa, viaja. Vagueia pelo mundo todo. E pode ir mesmo muito longe. Até para locais que quem sonha nunca conheceu.

E o sonho, para os yanomami, não é a expressão de desejos inconscientes do sujeito que sonha. O que move a imagem interior não é ela mesma, mas esses outros mundos que ela encontra, esses outros seres que ela conhece e os seus desejos.

Por exemplo, quando os yanomami morrem, eles vão para o céu e ficam lá numa grande festa. Estão muito bem vestidos e pintados e cantam muito, comem muito e estão sempre a celebrar. Mas às vezes os mortos lembram-se também dos vivos. Lembram-se deles durante a noite, que é o dia deles. Então, quando um yanomami sonha com alguém que já morreu, é porque o morto está com saudade dele. E não o contrário.

O sonho é onde se conhece a alteridade.
É onde nos levam o desejo dos outros.
E o que realmente importa é o que fazemos desse encontro.

Para eles, para os Yanomami, o que importa não é propriamente o sonho, mas o que se faz com ele. O que importa não é o conteúdo, a interpretação, mas a prática.

O Davi Kopenawa é um xamã yanomami.
Ele sonha muito e faz muito nos sonhos e faz muito com o que sonha neles.
E ele acha que fora da floresta, as pessoas sonham menos.
Ele disse assim uma vez: “Os brancos não sonham tão longe como nós. Dormem muito, mas só sonham com eles mesmos”.

Pois é, Davi.

Quem sonha só consigo mesmo nunca sai de si.

E isso faz do mundo um lugar muito pequeno.

Muito pequeno.

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Vocês sabiam que as baleias dormem de pé?

É, elas dormem de pé.

Imaginem umas quantas baleias. Azul com azul.
Uns quantos corpos enormes, verticais.
Dormindo, em pé, num corpo de água.

É, as baleias dormem de pé.

E quando elas morrem, elas caem.
Quando as baleias morrem elas caem, como se dormissem mais ainda e ficassem tão pesadas, que finalmente se deitassem no fundo fundo fundo do mar.

Chegando lá, ao fundo do fundo, a sua carcaça lentamente se transforma num lindo ecossistema. Uma galáxia submersa de vida.

Que acorda,
dormindo.

~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

Agora
é o fim.

É tempo de dizermos adeus.

Mas fiquem.
Agora é o fim.
Mas é também o começo do que vem a seguir.

Até as baleias caem.
Agora, é a nossa vez de cair.

Parem. Fiquem. Não façam nada.
Deixem a preguiça ficar no corpo. Levantem ele, mas façam isso muito devagar, saboreando cada movimento tão lentamente que seja quase como se ainda estivessem com o corpo deitado, suspenso, submerso nalgum lugar.

Nadem.
Continuem a nadar.
Durmam e vão sonhando.
Continuem dormindo e sonhando.
E deixem que esses sonhos vos levem para longe.
Para muito, muito longe. Tão longe que possam chegar então a casa. Voltar a casa. Ao lugar que encontraram. Ao mundo e ao viver junto. Que é viver descobrindo. Cuidando. Sonhando. Dormindo.

Caiam.
Vão caindo.
E quando caírem,
celebrem de novo o mundo.

Há vida no fundo do mar.

(FECHAR)

miguel oliva teles

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